Christophe Clavé: sem linguagem apurada não há pensamento nem futuro |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Pesquisadores em ciências cognitivas constatam desde a década de 1980, que há uma queda no Quociente Intelectual (QI) médio nos países mais desenvolvidos noticiou a Agence Économique et Financière de Zurich (AGEFI).
Essa perda está associada ao depauperamento da linguagem verificado em numerosos estudos e experimentada incessantemente nas redes sociais, alertou Christophe Clavé, mestre da estratégia empresarial da INSEEC Business School of Economics, grupo francês especializado no ensino de gestão com filiais em Londres e São Francisco.
Não se trata só da redução do vocabulário, mas também do esquecimento das complexidades da linguagem que permitem exprimir um pensamento sutil, útil para as negociações de toda espécie, empresariais, políticas, sociais, etc.
Por exemplo, observou Clavé, a entrada em desuso dos tempos verbais restringe o pensamento ao presente.
A inteligência, então, fica confinada ao instante em que o homem vive e o torna incapaz de fazer projeções no tempo, tirar lições do passado ou fazer cálculos para o futuro.
Napoleão indagou a Talleyrand por que ganhava sempre na conversa. E ouviu 'se o Sr. escolhesse o campo, perderia alguma batalha. Assim faço eu com as palavras' |
Eliminar a palavra “saudade” não é apenas uma questão estética a propósito de uma palavra, é promover a ideia de que entre uma menina e uma mulher não há nada, é a perda da hierarquização mental com nivelação mortal do pensamento.
Menos palavras e menos tempos conjugados significam menor capacidade de expressar emoções e menos oportunidades de pensar bem, prossegue Clavé.
E, mais precisamente, leva a pensar errado, fazer maus negócios em todas as atividades humanas. É o fim do homem com futuro, ou o futuro do fracassado.
Parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de traduzir as emoções em palavras.
O político cobre de injúrias seus adversários porque não consegue formular argumentos inteligentes contra ele.
E tampouco encontra como atrair os amigos senão com a explosão do palavrão.
Sem palavras para construir um raciocínio mais pobre fica a linguagem, e diminui o pensamento.
Sem pensamento para defender uma posição fica a força bruta como único recurso: a torpeza injuriante é o sinal desta precipitação na insignificância mental.
Pobreza de linguagem é pobreza de pensamento e falta de futuro |
A repetição pública do termo obsceno achincalha o povo.
Sem palavras não há pensamento e sem pensamento perde-se o senso do tempo, de que houve um passado e haverá um futuro.
Só fica o fugaz presente que logo se esfuma. O acontecer do imprevisto que chega e vai embora sem raciocínio nos deixa na lama ignara.
Se há um grito de guerra a fazer, deveria ser dirigido a pais e professores: façam com que filhos e alunos falem, leiam e escrevam!
Clavé é francês e sabe das obras primas do triunfo cultural a que nos eleva este costume fundacional.
A boa linguagem é fundamento da sociabilidade. Renoir, Nationalmuseum, Estocolmo, Suécia |
É falso conservador quem apela ao achincalhe verbal.
É na realidade um coveiro do intelecto que revolve a terra das mentes para enterra-las na incapacidade de se pronunciar.
Os coveiros da mente humana não cansam de pregar que se simplifique a grafia, que se purgue a linguagem abolindo gêneros, tempos e nuances.
Não há liberdade sem exigências.
Não há beleza sem o pensamento da beleza, não há pensamento feito ruínas, conclui Clavé.
Onde não há pensamento não há filhos de Deus nem Fé, nem Igreja, acrescentamos nós.
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