quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Freiras de Cássia deixam santuário de Santa Rita
no centenário de Fátima

O corpo incorrupto de Santa Rita pode ser posto em local seguro
O corpo incorrupto de Santa Rita pode ser posto em local seguro
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





As religiosas agostinianas que cuidavam do famoso santuário de Santa Rita e moravam no mosteiro anexo, em Cássia, Itália, escreveram “com o coração cheio de temor” que foram obrigadas a abandonar o mosteiro, bem como a célebre Basílica onde se venera o corpo incorrupto da grande santa italiana, escreveu o acatado jornal de Turim “La Stampa”.

O prédio sofreu graves danos estruturais nos sucessivos sismos de 2016.

“A situação é dramática em Cássia e em todas as cidades atingidas pelo terremoto. […] A terra continua tremendo. Nós todas estamos bem, graças a Deus” – acrescentaram as freiras.

Muitíssimas moradias ficaram inabitáveis, milhares de pessoas estão em abrigos precários, o hospital não oferece segurança e os doentes foram evacuados; as ruas estão desertas e os peregrinos não afluem mais.

As religiosas explicam também que faltam vocações. Não há freiras jovens para fazer os trabalhos da comunidade e a maioria das que ficaram são idosas e requerem muitos cuidados. Boa parte teve que deixar previamente o mosteiro rumo a outro fora da região atingida de Úmbria.

Por essa causa o mosteiro ficou fechado ainda quando, felizmente, a basílica pode ser reaberta no dia 1º de dezembro de 2016.

Os danos em Cássia foram generalizados.
Os danos em Cássia foram generalizados.
O santuário de Cássia é um dos locais de peregrinação mais visitados da Itália. Milhares de fiéis vão pedir todos os anos graças a Santa Rita.

Pela primeira vez na história, a basílica de Santa Rita foi fechada e as freiras deixaram vazio o mosteiro.

De alguma maneira os terremotos de 2016 reproduziram na ordem material os abalos morais que estão derrubando a vida religiosa no período de modernização pós-conciliar.

A Mensagem de Fátima não foi ouvida, nem dada a conhecer em 1960, antes do Concilio Vaticano II, quando ainda havia tempo, segundo transmitiu a Irmã Lúcia.

O drama de Cássia não será uma prefigura dos castigos que estão na iminência de vir sobre um mundo e uma Igreja que não levaram bem a sério as advertências premonitórias de Nossa Senhora aos três pastorzinhos há exatamente um século?

Efeitos do terremoto em Cássia




quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O padre que salvou um tesouro cultural iraquiano
com um terço na mão

Frei Najeeb-Michaeel O.P., exibe um dos documentos salvos
Frei Najeeb-Michaeel O.P., exibe um dos documentos salvos
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




No dia 6 de agosto de 2014, enquanto os obedientes adeptos do Corão do ISIS (abreviatura em inglês de Estado Islâmico do Iraque e do Levante) avançavam sobre a cidade crista de Qaraqosh – hoje felizmente recuperada – o frade dominicano iraquiano Najeeb Michaeel se afastava a toda da cidade.

Ele conduzia um carro e era acompanhado por um camião que ele tinha fretado. Nos dois veículos ia um tesouro que acabou sendo salvo das garras da destruição dos fanáticos islâmicos: 3500 manuscritos orientais dos séculos X a XIII, contou ele para o jornal “Clarin”.

O sacerdote os tinha tirado de Mosul, que viraria capital dos seguidores de Maomé, inimigos de toda forma de cultura.

A pequena caravana fez um longo caminho entre o pó e o terror. Conseguiu passar por três controles: um dos próprios muçulmanos do ISIS e dois das milícias curdas, essas mais amigáveis.

Por fim, chegou a Erbil, no Curdistão, onde essa valiosa parte da memória da Mesopotâmia ficou a salvo até os presentes dias.

O Pe. Najeeb Michaeel renovou assim, em pleno III milênio, com uma velha e admirável tradição da Igreja Católica.


Para frei Najeeb-Michaeel O.P., o diálogo com os autênticos adeptos do Islã é impossível.
Para frei Najeeb-Michaeel O.P., o diálogo com os autênticos adeptos do Islã é impossível.
A Igreja, desde os tempos das invasões bárbaras na Europa protegeu e salvou quase todo o acervo da Antiguidade pagã, sobretudo a greco-romana, que assim pode chegar até nossos dias.

“Salvar a memória foi um ato da Providencia, explicou ele. Não foi organizado. Eu estava em Mosul, quando o ISIS avançou sobre a cidade.

“Eu tinha regressado para completar a bibliografia de minha tese de doutorado na Universidade de Friburgo, na Suíça.

“Ajudado por dez jovens de nosso Centro Numérico de Manuscritos Orientais selecionamos textos e fotos antigas, os enrolamos em papelões e os empacotamos em caixas.

“O ISIS ataca às pessoas e à cultura. Não só mata cristãos, yazidis e outras minorias, mas destrói as raízes. Por isso eu venci o medo para proteger esse patrimônio”.

O Pe. Michaeel participou de um colóquio em Buenos Aires promovido pelo Ministério da Cultura argentino, representando o Centro Numérico que dirige.

O frade dominicano preservou e restaurou durante muito tempo valiosos documentos em couro e outros suportes antiquíssimos dos anos 900 a 1300, que pertencem a coleções privadas, instituições culturais e a diversos grupos religiosos.

Entre os textos que ele conseguiu salvar há muitos de origem muçulmano, além de cristãos e yazidis [comunidade étnico-religiosa curda que professa uma crença sincrética, mistura de antigas religiões da Mesopotâmia].

O frade dominicano Najeeb-Michaeel, mostra outro documento salvo.
O frade dominicano Najeeb-Michaeel, mostra outro documento salvo.
Hoje o Pe. Michaeel vive num campo de refugiados em Erbil enquanto aguarda o desfecho da batalha que poderá derrotar o ISIS e liberar sua cidade Mosul.

O religioso dominicano cuida de 250 famílias cristãs e yazidis. É um missionário pregador que também age como curador e protetor da cultura do país.

Interrogado sobre como foi a fuga, ele respondeu com um sorriso.

Nunca deixei de rezar meu terço. Sobre as caixas onde escondemos os documentos antigos ia muita gente fugindo do ISIS.

“Em certo momento senti que a Virgem Maria se tinha sentado no carro e no caminhão. Esse foi meu sentimento.

“Foi providencial que [os guardas islâmicos] não revisassem as caixas. Ali nos levávamos não só a memória do Iraque, mas as da região da Mesopotâmia toda.

“Havia documentos em dez línguas e sobre vinte temas diversos. Havia exemplares antigos da Bíblia e do Corão, textos sobre história, teologia, filosofia, astronomia, astrologia, medicina de plantas, gramática e dicionários, todos manuscritos.

“Além desses documentos também salvamos as câmaras com que os digitalizamos e os discos rígidos dos computadores, mas perdemos tudo o que deixamos em Mosul”.

Incêndio da catedral de Mosul, nessa hora o frei Michael estava desaparecido resgatando documentos históricos.
Incêndio da catedral de Mosul, nessa hora
frei Michael estava desaparecido resgatando documentos históricos.
O sacerdote explicou como venceu o medo diante das ameaças de morte.

“Antes do ISIS, explicou, esteve [a facção terrorista islâmica] Al Qaeda e eu tive que fugir do Iraque porque estava numa lista para ser assassinado.

Mataram a sete religiosos de minha ordem. Acredito ser necessário salvar o patrimônio junto com os homens. É como salvar a árvore com suas raízes.

“Além do mais, o ISIS não quer dialogar, porque antes de falar, mata. Nesses termos é muito difícil considerar um diálogo. Eles impõem três opções: fugir, se converter ao Islã ou ser morto.

“Pelos carros de som davam 24 horas às pessoas para fugir com a roupa do corpo. Se não teriam que se converter ao Islã. E se recusavam, eram mortos.

“Em Mosul assassinaram milhares de homens e milhares de mulheres e meninas foram feitas escravas sexuais”.