![Frei Najeeb-Michaeel O.P., exibe um dos documentos salvos Frei Najeeb-Michaeel O.P., exibe um dos documentos salvos](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiInWVb-n8SGtxONhdiiroaSlcl6SrNmAECshYhyqP637jmijMuPGFpxzY2B4ANpfr-2SlhETTALcbVa86bxBSytlUlCG2duUxmIy4V5TK6alQmivWHo5lDGsueVjiJshhnUsq5TLFAaamm/s768/Frei+Najeeb-Michaeel+02.jpg) |
Frei Najeeb-Michaeel O.P., exibe um dos documentos salvos |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXgntxGHMniCwj4CDROcngjaHIsJKndTnIQNu9L1K_RRQcF4lDT4JVR0Xkf57AU0J3S8AMn9zpVq6_CkKk-BLgXaCr53XJFl0MunlS8O0sDeYyGDLfFa6yLcsCUhoAdfZ4YQDwkE9KN-O-/s1600/LuisDufaur-Polonia.png) |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
|
No dia 6 de agosto de 2014, enquanto os obedientes adeptos do Corão do ISIS (abreviatura em inglês de Estado Islâmico do Iraque e do Levante) avançavam sobre a cidade crista de Qaraqosh – hoje felizmente recuperada – o frade dominicano iraquiano Najeeb Michaeel se afastava a toda da cidade.
Ele conduzia um carro e era acompanhado por um camião que ele tinha fretado. Nos dois veículos ia um tesouro que acabou sendo salvo das garras da destruição dos fanáticos islâmicos: 3500 manuscritos orientais dos séculos X a XIII, contou ele para o jornal
“Clarin”.
O sacerdote os tinha tirado de Mosul, que viraria capital dos seguidores de Maomé, inimigos de toda forma de cultura.
A pequena caravana fez um longo caminho entre o pó e o terror. Conseguiu passar por três controles: um dos próprios muçulmanos do ISIS e dois das milícias curdas, essas mais amigáveis.
Por fim, chegou a Erbil, no Curdistão, onde essa valiosa parte da memória da Mesopotâmia ficou a salvo até os presentes dias.
O Pe. Najeeb Michaeel renovou assim, em pleno III milênio, com uma velha e admirável tradição da Igreja Católica.
![Para frei Najeeb-Michaeel O.P., o diálogo com os autênticos adeptos do Islã é impossível. Para frei Najeeb-Michaeel O.P., o diálogo com os autênticos adeptos do Islã é impossível.](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS9bPsI-vb8aNJ-wWSDvbVmJZNf7bQlk_i_ytIc98QDF1o1P8ZU48_RuKlV8q5B-eHxrhEoKLnOkMAj3DulwptTWNBWZX2bXf7GNAt8UbYbgqhB12FkZLG4hIRXr2LeemIXLBqZSgrtoT8/s768/nageeb.jpg) |
Para frei Najeeb-Michaeel O.P., o diálogo com os autênticos adeptos do Islã é impossível. |
A Igreja, desde os tempos das
invasões bárbaras na Europa protegeu e salvou quase todo o acervo da Antiguidade pagã, sobretudo a greco-romana, que assim pode chegar até nossos dias.
“Salvar a memória foi um ato da Providencia, explicou ele. Não foi organizado. Eu estava em Mosul, quando o ISIS avançou sobre a cidade.
“Eu tinha regressado para completar a bibliografia de minha tese de doutorado na Universidade de Friburgo, na Suíça.
“Ajudado por dez jovens de nosso Centro Numérico de Manuscritos Orientais selecionamos textos e fotos antigas, os enrolamos em papelões e os empacotamos em caixas.
“O ISIS ataca às pessoas e à cultura. Não só mata cristãos, yazidis e outras minorias, mas destrói as raízes. Por isso eu venci o medo para proteger esse patrimônio”.
O Pe. Michaeel participou de um colóquio em Buenos Aires promovido pelo Ministério da Cultura argentino, representando o Centro Numérico que dirige.
O frade dominicano preservou e restaurou durante muito tempo valiosos documentos em couro e outros suportes antiquíssimos dos anos 900 a 1300, que pertencem a coleções privadas, instituições culturais e a diversos grupos religiosos.
Entre os textos que ele conseguiu salvar há muitos de origem muçulmano, além de cristãos e yazidis [comunidade étnico-religiosa curda que professa uma crença sincrética, mistura de antigas religiões da Mesopotâmia].
![O frade dominicano Najeeb-Michaeel, mostra outro documento salvo. O frade dominicano Najeeb-Michaeel, mostra outro documento salvo.](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx0QKIiMHsp8toyMCaotIh6GkKD_bs2gIPJQb_7YnnjRiEHbt4dRY7dJuCCFvAHiNWiIpwxpDEDRbZ5FF8RdHwpAas6_oMBYUvzOHm0pniebTrV7R2OyuE9zQkA-eLMA-TYlxpAcIizIJ6/s640/Frei+Najeeb-Michaeel+01.jpg) |
O frade dominicano Najeeb-Michaeel, mostra outro documento salvo. |
Hoje o Pe. Michaeel vive num campo de refugiados em Erbil enquanto aguarda o desfecho da batalha que poderá derrotar o ISIS e liberar sua cidade Mosul.
O religioso dominicano cuida de 250 famílias cristãs e yazidis. É um missionário pregador que também age como curador e protetor da cultura do país.
Interrogado sobre como foi a fuga, ele respondeu com um sorriso.
“Nunca deixei de rezar meu terço. Sobre as caixas onde escondemos os documentos antigos ia muita gente fugindo do ISIS.
“Em certo momento senti que a Virgem Maria se tinha sentado no carro e no caminhão. Esse foi meu sentimento.
“Foi providencial que [os guardas islâmicos] não revisassem as caixas. Ali nos levávamos não só a memória do Iraque, mas as da região da Mesopotâmia toda.
“Havia documentos em dez línguas e sobre vinte temas diversos. Havia exemplares antigos da Bíblia e do Corão, textos sobre história, teologia, filosofia, astronomia, astrologia, medicina de plantas, gramática e dicionários, todos manuscritos.
“Além desses documentos também salvamos as câmaras com que os digitalizamos e os discos rígidos dos computadores, mas perdemos tudo o que deixamos em Mosul”.
![Incêndio da catedral de Mosul, nessa hora o frei Michael estava desaparecido resgatando documentos históricos. Incêndio da catedral de Mosul, nessa hora o frei Michael estava desaparecido resgatando documentos históricos.](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhal5rxYah98ZjYQYVp6dw9fvz_Day5L-v7-PKCXFylhMH0FVO0S5-_SgLlR7HpjuOUmuFh8hljrNHSvT6eUn9cILIPYjxLEt4oAg1opTj9S0SrqNqbZ-7M8s7MpBwuRPyEKuUmLfIOYBVm/s640/Inc%25C3%25AAndio+da+catedral+de+Mosul%252C+nessa+hora+o+frei+Michaeel+estava+desaparecido+resgatando+documentos+hist%25C3%25B3ricos.jpg) |
Incêndio da catedral de Mosul, nessa hora
frei Michael estava desaparecido resgatando documentos históricos. |
O sacerdote explicou como venceu o medo diante das ameaças de morte.
“Antes do ISIS, explicou, esteve [a facção terrorista islâmica] Al Qaeda e eu tive que fugir do Iraque porque estava numa lista para ser assassinado.
“Mataram a sete religiosos de minha ordem. Acredito ser necessário salvar o patrimônio junto com os homens. É como salvar a árvore com suas raízes.
“Além do mais, o ISIS não quer dialogar, porque antes de falar, mata. Nesses termos é muito difícil considerar um diálogo. Eles impõem três opções: fugir, se converter ao Islã ou ser morto.
“Pelos carros de som davam 24 horas às pessoas para fugir com a roupa do corpo. Se não teriam que se converter ao Islã. E se recusavam, eram mortos.
“Em Mosul assassinaram milhares de homens e milhares de mulheres e meninas foram feitas escravas sexuais”.