terça-feira, 23 de novembro de 2021

Telas digitais: “fábrica de cretinos”?

As crianças não se inteligentizam com as telas digitais. Elas se cretinizam, diz cientista
As crianças não se inteligentizam com as telas digitais.
Elas se cretinizam, diz cientista
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







“A Fábrica de Cretinos Digitais”: o título é chocante para um livro de um sisudo neurocientista e ainda mais quando pretende elencar os efeitos das telas digitais.

Porém foi o escolhido pelo neurocientista francês Michel Desmurget, autor do libro recém-lançado em português “A Fábrica de Cretinos Digitais”, pela editora Vestígio (BH, 2021, 352 págs.), após ser traduzido em outras línguas.

O neurocientista constata entre os efeitos “constante bombardeio perceptivo; desmoronamento das trocas interpessoais (especialmente intrafamiliares); perturbação tanto quantitativa quanto qualitativa do sono; amplificação das condutas sedentárias; e insuficiência de estimulação intelectual crônica”.

Uma conjunto demolidor do equilíbrio da saúde e da mente de uma criança. E é só um resumo.

O autor analisa diversos estudos clínicos e o resultado é uma chuva de denúncias científicas contra a onipresença de celulares, tablets, videogames, internet e redes sociais na rotina dos mais jovens.

O autor não é um qualquer um, mas é diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França.

Ele recorre à sua experiência na neurociência cognitiva e a centenas de trabalhos feitos com crianças e adolescentes para fundamentar a tese de que o uso abusivo de telas está piorando o desenvolvimento físico, psíquico e emocional da nova geração.

E o faz de modo bem convincente!

Diogo Sponchiato, que escreve para Veja Saúde e nos fornece estas ricas informações, conta que como pai de um bebê de 6 meses, ficou assustado com o impacto de algumas horas diárias de vídeos ou joguinhos pelo celular na cabeça e no corpo da criançada.

O neurocientista Desmurget não prega a destruição de smartphones e reconhece o lado bom da tecnologia. E é equilibrado na crítica, mas alerta as famílias e as associações educativas que não prestam a atenção devida ao que está danificando filhos e alunos.

O autor: o investigador francês Michel Desmurget
O autor: o investigador francês Michel Desmurget
“A Fábrica de Cretinos Digitais” foi publicado originalmente na França antes da pandemia. Mas com o isolamento social, milhões de meninos e meninas tiveram que ficar confinados em casa com “lives” e aulas pelas telas digitais.

E os argumentos do professor cresceram em validade.

O Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) visualiza uma avalanche de transtornos mentais entre os jovens, e os especialistas concordam que o aprendizado virtual não substitui o presencial.

Desmurget se preocupa especialmente pelos bebês abduzidos por vídeos no YouTube, pela molecada jogando videogame, pelos adolescentes hipnotizados por redes sociais; e até pela família, pais e filhos vendo horas ininterruptas de TV.

Com farta documentação científica, o pesquisador francês explica que o uso exagerado de telas compromete o desenvolvimento emocional, intelectual, somático e social.

As crianças deixam de interagir com gente e abrem mão de atividades mais instigantes aos neurônios, como a leitura.

Horas vidrado numa tela significa menos horas com o corpo em movimento. E aí está a epidemia de obesidade infantil!

O organismo sai bagunçado: a quantidade e a qualidade do repouso noturno saem prejudicadas, sobretudo se o consumo de jogos, vídeos e afins acontecer depois que o sol se põe.

A noção de que haveria “nativos digitais” — quer dizer a ideia de que as crianças do século XXI já nascem sabendo mexer com smartphones e computadores – é uma perigosa bobagem, segundo o neurocientista.

Filhos menos inteligentes que os pais
Filhos menos inteligentes que os pais
Temos o mesmo cérebro de nossos antepassados de milhares de anos atrás e, se o bombardeio digital mexeu com nossos neurônios, foi para pior.

Outra ilusão: os videogames tornam os jovens mais habilidosos e inteligentes.

Desmurget defende que jogos educativos têm sua razão de existir. Porém os games que simulam a vida real ou são cheios de conteúdos violentos não estimulam o desenvolvimento cerebral.

Adolescentes expostos a jogos “pesados” estão mais sujeitos a violência e comportamentos de risco como, aliás, o prova o bom senso.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é de que o uso de telas, com bom senso, só pode começar a partir dos 2 anos de idade. Para Desmurget o cenário ideal é: nada de telas até os 6 anos.

Dos 6 em diante, no máximo meia hora de tela por dia, passando a 60 minutos a partir dos 12.

No livro, o neurocientista lista e explica muitos outros cuidados, incluindo evitar vídeos e games antes de ir à escola e antes de dormir, não ter telas no quarto, limitar o tipo de conteúdo a que os pequenos são expostos etc.

Não dá para terceirizar a criação às telas, até porque as grandes companhias por trás dessas plataformas só querem que, a despeito da idade, a gente fique horas e horas submersos nelas.

Há mais vida e saúde lá fora! exclama ponderadamente Diogo Sponchiato.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Real Academia Espanhola repele “linguagem inclusiva”

Real Academia Espanhola
Real Academia Espanhola
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A Real Academia Espanhola (RAE) cujo juízo sobre a língua espanhola tem valor legal sobre a segunda língua mais falada no mundo, depois do mandarim, ou pelo menos 406 milhões de falantes em 22 países onde é língua oficial voltou a recusar a “linguagem inclusiva”, noticiou “La Nación”.

Em resposta a uma consulta à RAE que vigia pelo bom uso da língua espanhola destacou que a gramática masculina “está firmemente estabelecida” e “não implica qualquer discriminação sexista”.

A RAE explicou que o “que se costuma usar como 'linguística inclusiva' e um conjunto de estratégias para evitar o uso genérico da gramática masculina, mecanismo firmemente estabelecido na linguagem e que não implica qualquer discriminação sexista”.

Não é a primeira vez que a instituição madrilena com autoridade universal sobre a língua espanhola repele o uso dito “inclusivo” na língua.

O “inclusivo” é uma forma de expressão que muda a letra final das palavras que concluem em “o” para fecha-las com uma “e”, ou algo mais confuso como a arroba @.

Real Academia Espanhola
Real Academia Espanhola
Também muda o final de termos como “todos” por “todes” ou “nosotros” (nós) por “nosotres” com o pretexto “incluir” as pessoas que estariam sendo excluídas pela terminação masculina.

Em dezembro de 2020, a RAE também mostrou que:

“O uso da letra ‘e’ como sinal de gênero supostamente inclusiva é alheio à morfologia do espanhol, além de desnecessário, uma vez que o masculino gramatical (por exemplo em ‘meninos’) já cumpre essa função como termo general”.

A Real Academia também se manifestou contra a tentativa de a Espanha mudar os textos da Constituição nacional para incorporar a “linguagem inclusiva”.

Na ocasião, em janeiro de 2020, o pronunciamento da entidade afastou as modificações como carentes de inteligibilidade gramatical ou semântica.