Continuamente havia uma panela no fogo e alguma delícia caseira saindo.
Entrando no lar, a primeira coisa que percebiam familiares, empregados, amigos, convidados, hóspedes, era o cheiro do prato prestes a ser servido.
Em torno do fogo: a família. A dona de casa como rainha.
Na mesa, o pai como rei, e um exército animado de crianças, velhos, patrões, empregados e assimilados em torno da mesa farta.
Já na Idade Média comia-se para valer. Horas na mesa, falando de tudo o que aconteceu no dia, no trabalho, na cidade, na igreja, na roça, no castelo do príncipe, no palácio do bispo, na casa do prefeito ou dos vizinhos, na feira, na choça do maltrapilho.
A modernidade extinguiu os fogos, e sem o fogo a família foi deixando de comer na mesma mesa, de pôr em comum sentimentos e esperanças. Os filhos foram sumindo e um dia o casal passou a se separar.
Agora, o Instituto Nacional da Estatística e dos Estudos Econômicos (Insée, na sigla em francês) diz que os franceses estão voltando à mesa familiar.
Em média passam nela 2h 35m diários, 13 minutos a mais que em 1986. Isso fora de casa. No lar aumentou cada refeição consome 1h 35m
No Brasil, por dia, levamos 1h54m com as refeições, segundo o IBGE.
Para o sociólogo Thibaut de Saint Pol, “os estrangeiros se espantam vendo que em torno de 12h30m, a grande maioria dos franceses foi almoçar. Nas estradas todo mundo pára para comer. A refeição mais importante é a noturna. Todos se encontram para comer juntos e conversar sobre o dia”, ressalta o sociólogo.
Segundo Thibaut, para “britânicos e americanos o alimento é um combustível. Para os franceses, é algo muito forte, é cultural”.
Dominique Audoit, 47, de Aix-les-Bains, defende que “o importante é estar juntos. Está fora de questão começar a jantar antes que todos estejam presentes. E ninguém assiste à TV nem usa o celular durante a refeição”.