terça-feira, 28 de março de 2023

Decadência gastronómica nos aviões: do caviar até o presente

Propaganda de serviços da VARIG
Propaganda de serviços da VARIG
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A decadência das refeições nos voos gera decepção.

Ficaram reduzidas a pratos de comida massificada ou um “snack”, sintoma do afundamento do nível de vida geral rumo ao miserabilismo. Assim ficou patenteado em reportagem de “La Nación”.

Há poucas décadas havia mesas com talheres de prata, copos de vidro e louças de porcelana.

O cardápio à la carte podia incluir ostras, coquetel de caranguejo, lagosta, presunto serrano, champanhe e outros requintes.

Em 1919, a antecessora da British Airways, ofereceu uma cesta de vime contendo uma bebida, um sanduíche e frios.

Nas escalas algumas empresas montavam um restaurante no avião
Nas escalas algumas empresas montavam um restaurante no avião
A Pan Am introduziu comida quente anotando os pedidos a preparar nas cozinhas da próxima etapa e que eram servidas num local especial da aeronave durante a duração da etapa.

Surgiram chefs especializados.

A Air France optou pela gastronomia francesa com caviar Beluga, vinhos exclusivos (sommelier a bordo) e champanhe.

A Lufthansa oferecia cerveja de barril.

Quando se criou a classe econômica o serviço abaixou.

Com os jatos os passageiros duplicaram e o tempo encurtou: surgiram talheres descartáveis e alimentos digeríveis às pressas.

Fotos de pasageiros em aviões causam nojo
No Concorde os ingredientes não aguentavam a aceleração, mas caviar e champanhe nunca faltaram.

A Ryanair derrubou a alimentação e após os atentados de 11 de setembro se generalizaram os talheres de plástico e as refeições foram trocadas por lanches.

Foi isso um autêntico progresso?


terça-feira, 21 de março de 2023

“Estamos numa tempestade perfeita de degradação cognitiva”

Tempestade perfeita de degradação cognitiva
Tempestade perfeita de degradação cognitiva
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Peter Shankman, empresário e palestrante, tinha que escrever um livro e para se isolar comprou uma passagem de ida e volta em primeira classe de Nova York a Tóquio, um trajeto de 28 horas em silêncio mas, conseguiu.

A experiência lhe mostrou a confusão fenomenal em que vivemos por causa dos estímulos constantes e inúmeras distrações da sociedade digital multitarefa, comentou “El Mundo”.

Porque está se tornando heroico manter o foco e trabalhar duro num ambiente sob o bombardeio dos estímulos virtuais?

Segundo estudos científicos recentes os adolescentes estão ficando incapazes de se dedicar a uma mesma tarefa por mais de 65 segundos, e os adultos mal conseguem se concentrar em uma única tarefa por três minutos.

A cascata de e-mails, tweets, memes, alertas, histórias e emoticons que chovem sobre nós dia após dia amolecem os cérebros e os tornam inúteis para tarefas intelectuais complexas, diz o jornal espanhol.

Soma-se a todo-poderosa indústria do marketing que quer tirar dinheiro de suas procuras na rede. Uma super articulação da propaganda baseada em algoritmos nos apronta sem cessar todo tipo de armadilhas para nos propor na rede não o que procuramos, mas sim o que o mercado nos quer empurrar, mesmo sem precisar.

Estamos no meio de uma tempestade perfeita de degradação cognitiva como resultado das interrupções contínuas. A grande maioria da população diz que se sente menos competente do que há 10 ou 20 anos”, resume o jornalista e divulgador Johann Hari, por videochamada desde Londres.

Calma e reflexão produtiva numa outra concepção da vida. Fra Angelico retrata a São Domingos
Calma e reflexão produtiva numa outra concepção da vida.
Fra Angelico retrata a São Domingos
Depois de entrevistar mais de 250 neurocientistas, psicólogos, especialistas em saúde pública e luminares do Vale do Silício, Hari acaba de publicar um ensaio essencial para entender o que está acontecendo: “El valor de la atención: Por qué nos la robaron y cómo recuperarla” (“O valor da atenção. Por que nos foi roubado e como recuperá-lo”, editorial Península, Barcelona, 2023, 448 págs.).

Hari reconhece que com o passar dos anos, ler um livro, assistir a um filme ou manter uma conversa longa se tornou um exercício árduo. Ele notou essa deformação também em membros de seu ambiente mais próximo.

“É um sistema que, todos os dias, se dedica a despejar ácido em nossa atenção”, explica.

As pessoas que não conseguem se concentrar se inclinam para soluções autoritárias ou simplistas.

Na opinião de Javier Quintero, professor de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Complutense e chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital Universitário Infanta Leonor (Madrid) “há uma competição cada vez mais ativa pela intensidade da estimulação” que vai acelerando a velocidade das excitações e alterando os processos atencionais.

Por isso, é “absurdo” que o presente mais frequente dado às crianças que fazem a primeira comunhão seja um smartphone, exemplifica.

“Nessa idade, suas mentes precisam estar se desenvolvendo com outras coisas”, diz ele.

“Fico horrorizado com a típica cena do casal com o bebê em um restaurante em que a criança tem um tablet a poucos centímetros dos olhos e passa o dedo pela tela”, acrescenta o autor de The Teenage Brain (O cérebro adolescente, ed. Intrínseca, 2016 ) e Transtorno de Déficit de Atenção ao Longo da Vida (Editora Artmed; 2009. 388p).

Os adultos mal conseguem se concentrar numa tarefa por 3 minutos
Os adultos mal conseguem se concentrar numa tarefa por 3 minutos
“Para Paul Graham, um dos maiores investidores no Vale do Silício, o mundo está mais viciante. O TikTok está fisgando seus filhos mais do que o Facebook. Imagine como será no metaverso...

“Temos que construir um movimento de resistência. Não somos camponeses medievais na corte do rei Zuckerberg ou do rei Musk implorando migalhas de atenção. Somos cidadãos livres e mestres de nossas próprias mentes”, afirma.

Em conversa com o cientista norueguês Thomas Hylland Eriksen, professor de Antropologia Social, Hari datou o início da crise na Revolução Industrial.

Hari argumenta que a maquinaria do marketing levou o homem além dos limites de sua mente, esquecendo o canto dos pássaros nas cidades, incorporando nossos rostos na tela como se não houvesse mais nada fora do digital.

“A concentração é nosso maior superpoder. Se a perdermos teremos sérios problemas”, conclui.


terça-feira, 14 de março de 2023

Sínodo Alemão rumo ao precipício do cisma

O 'Sínodo' ou 'Caminho Sinodal' alemão nas pêgadas de Lutero. O heresiarca prega suas teses numa igreja de Wittenberg
O 'Sínodo' ou 'Caminho Sinodal' alemão nas pegadas de Lutero.
O heresiarca prega suas teses numa igreja de Wittenberg
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs







O Secretário de Estado vaticano Cardeal Pietro Parolin e os cardeais Ladaria e Ouellet com aprovação do Papa, escreveram ao presidente do DBK (a CNBB alemã) atendendo a uma pergunta de cinco bispos alemães que “nenhuma Conferência Episcopal tem competência para constituir o 'Conselho Sinodal' em nível nacional, diocesano ou paroquial”, noticiou “Infocatólica”.

Os cardeais vaticanos se referiam às assembleias semelhantes às CEBs latino-americanas, geralmente conhecido como “Sínodo Alemão” ou “Caminho Sinodal”, em todas suas versões diocesanas. Os cardeais vaticanos afirmam que bispo algum está obrigado a participar dele que “formaria uma nova estrutura de governo da Igreja”.

Porém, a Conferência Episcopal Alemã reafirmou que não mudaria de rumo.

Deão Wolfgang Picken, renunciou ao 'Sinodo Alemão'
porque 'estava tudo preparado de antemão'
O Deão do clero católico de Bonn Pe. Wolfgang Picken embora partidário das reformas e mudanças bafejadas por dito “Sínodo”, renunciou a ele dizendo “não posso apoiar a falta de abertura com que muitos debates são realizados e numerosas propostas de reforma que abandonam levianamente a unidade com a Igreja universal”, informou também “Infocatólica”.

Ele se declarou decepcionado pela “falta de uma cultura de debate e de faculdades críticas” nesse “Caminho Sinodal”.

Denunciou que críticas e objeções, como a recente intervenção do Vaticano, têm sido amplamente ignoradas e, em vez disso, a própria agenda de cada um tem sido perseguida sem medo.

“Isso viola o princípio básico da sinodalidade. Trata-se de ouvir uns aos outros e se engajar em um diálogo sério”, disse.

Se desconectar até do Papa põe em risco a unidade com a Igreja universal, acrescentou.

Ele verberou a “obstinação inabalável e a crueldade com que é procurada uma via alemã separada” da Igreja Católica com “metodologia duvidosa”.

Ele explicou que “durante muito tempo, sentiu-se que os objetivos do Caminho Sinodal já estavam definidos de antemão”, o que o esvaziaria do pretenso espírito democrático contido na palavra talismã “Sinodal”.

O Pe. Picken se juntou à decisão tomada na mesma direção por quatro teólogos alemães.


A 'via sinodal' democrática e revolucionária blasfema contra a Igreja, diz o Cardel Muller
A 'via sinodal' democrática e revolucionária blasfema contra a Igreja, diz o Cardeal Muller
Na abertura da Assembleia de Primavera da Conferência Episcopal Alemã (BDK), o Núncio Apostólico Mons Nikola Eterovic, sublinhou que o Vaticano exclui categoricamente ditos “conselhos sinodais”.

Em seu discurso, explicou que a mulher não pode acessar o sacerdócio porque não há lugar para isso no princípio petrino, verdade que revolta os participantes do “Caminho Sinodal”.

E reafirmou, com o apoio do Papa Francisco: “recebi instruções ex oficio para especificar que, de acordo com uma correta interpretação do conteúdo da carta (acima referida) dos três cardeais, nem mesmo um bispo diocesano pode constituir um conselho sinodal em nível diocesano ou paroquial”.

E concluiu apelando a não reforçar forças centrífugas, mas sim a unidade e com o Papa em Roma “como Sucessor de Pedro, perene e visível princípio e fundamento da unidade da multiplicidade dos bispos e dos fiéis que tem o seu fundamento em Jesus Cristo, que “é o mesmo ontem, hoje e sempre”, completou “Infocatólica” que reproduziu o discurso em toda sua extensão.