Engenheiro moderno terá que pagar indenização pelos ferimentos que causa sua 'famosa' ponte de vidro |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Nova condenação por inépcia caiu sobre o arquiteto espanhol Santiago Calatrava, fautor de inúmeras obras de vanguarda.
O Tribunal de Contas de Veneza condenou-o a indenizar o erário público em cerca de 78 mil euros por cometer erros culpados que aumentaram o valor da construção da ponte da Constituição, escreveu “Isto é”.
A ponte de quase 100 metros de comprimento foi construída em aço e vidro e inaugurada em 2008 na famosa cidade italiana.
Mas, gerou controvérsias desde que o início, tanto por sua forma quanto pelo custo, que passou de 7 milhões de euros a 11,6 milhões de euros.
A decisão do tribunal, datada de 6 de agosto 2021, condena Calatrava por “macroscópica negligência” que encareceu a obra, principalmente que desde que foi aberta precisou ser modificada em diversas ocasiões.
O Museu das Artes e Ciências é um ícone de Valencia que pagou muitas centenas de milhões de euros Mas não serve. |
As autoridades constataram que os tubos utilizados na obra tinham o tamanho errado, os degraus se desgastavam rapidamente e faltava acessibilidade às pessoas em cadeiras de rodas.
Críticas também foram ouvidas dos venezianos e turistas que cruzaram a ponte e sofreram vários escorregões e quedas.
Além de Calatrava, o engenheiro Salvatore Vento também foi condenado a pagar quase 11 mil euros. Ambos ainda terão que pagar os custos do processo.
Conhecida como a “Ponte Calatrava” liga a Piazzale Roma à estação ferroviária de Santa Lúcia. Ela é a quarta ponte que atravessa o Grande Canal e a primeira construída nos últimos 125 anos.
Ao longo de sua carreira, o arquiteto de Valência recebeu diversos prêmios internacionais e milionários pagamentos.
Operários tentam incessantemente consertar o Museu de Valencia de Santiago Calatrava. |
Hoje em dia, em Valência ele é considerado um malfeitor, escreveu “The New York Times”. O político local Ignacio Blanco até montou um site cujo nome poderia ser traduzido como “Calatrava te apunhala”.
O conjunto originalmente orçado em 300 milhões de euros se denomina Cidade das Artes e Ciências. Inclui um salão de apresentações, uma ponte, um planetário, um teatro de ópera, um museu de ciência, um calçadão coberto e espelhos d’água.
Na prática custou quase o triplo, e a região valenciana nunca teve dinheiro para pagar. Mas o monstrengo virou cartão de visita da cidade.
Calatrava ganhou quase 94 milhões de euros pelo serviço em que a ópera está tão mal feita que 150 lugares têm a visão obstruída.
No Museu da Ciência foram esquecidas as saídas de incêndio e os elevadores para deficientes.
Em Valência, o monstrengo iria transformar a cidade num destino turístico, como fez o Museu Guggenheim em Bilbao.
A ópera tem uma “pele macia” que começou a enrugar apenas seis anos depois da inauguração.
Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, outra insensatez gordamente paga de Santiago Calatrava. Oficialmente o acervo do Museu são as possibilidades e projeções, nenhum objeto |
Mas ele continuava recebendo do governo socialista enquanto o desastre progredia. “Ele foi pago mesmo quando consertava seus próprios erros”, disse Blanco.
Os admiradores justificam as falcatruas dizendo que os astros da arquitetura pedem preços elevados para projetos complexos.
Arquitetos, acadêmicos e construtores não entendem como Calatrava está colecionando uma lista incomumente longa de projetos marcados por estouros de orçamento, atrasos e litígios.
Calatrava projetou dezenas de estruturas ao redor do mundo, como a estação ferroviária Liège-Guillemins na Bélgica, o arranha-céu Turning Torso em Malmö, na Suécia, e o Museu de Arte de Milwaukee nos EUA.
Em Nova York a nova estação de trens no marco zero deveria ser inaugurada em 2015, mas acumulou seis anos de atraso custará US$ 4 bilhões, o dobro do orçamento inicial.
Em Bilbao, a passarela dos tombos, em vidro, é evitada |
Em Bilbao, na Espanha, houve problemas com uma ponte e um aeroporto. Na mesma cidade sua passarela para pedestres feita de vidro iluminado por baixo, os pedestres escorregavam sem cessar.
A Prefeitura contou 50 cidadãos feridos na ponte, quebrando pernas ou quadris, desde que foi inaugurada em 1997.
Os tijolos de vidro racham com frequência e a cidade tampou os vidros com um grande tapete de borracha preta. Em uma tempestade recente, o tapete se levantou, derrubando vários transeuntes.
“Não podemos continuar pagando às pessoas que escorregam e caem” disse Ibon Areso, prefeito de Bilbao.
Também em Bilbao, Calatrava fez um terminal de aeroporto apelidado de La Paloma que, quando foi inaugurado em 2000, não tinha sala de desembarque.
A Turning Torso Malmö, no sul da Suécia da a impressão que cai para qualquer lado. |
Em Oviedo, Calatrava foi condenado a pagar 3,3 milhões de euros após um centro de conferências seu sofrer um desabamento espetacular.
Impossível criar um ambiente acolhedor no interior da Turning Torso de Santiago Calatrava |
A vinícola Domecq lhe pede 2 milhões de euros para contratar novos arquitetos e engenheiros e solucionar o erro.
Voltando a Valência, Blanco diz que os “arquitetos sabem exatamente que maçanetas de portas querem, onde comprá-las e qual o seu preço. Mas Calatrava é o oposto”.
Os jardins paisagísticos da Cidade das Artes e Ciências têm por cima arcos metálicos que ficam tão quentes que nenhuma trepadeira sobe por eles.
O teto do salão de apresentações vaza e a ópera já foi inundada em uma tempestade.
Um arquiteto de Valência, Vicente Blasco, criticou Calatrava por cobrir as laterais de aço da ópera com um mosaico de azulejos brancos quebrados que agora estão desmoronando como era previsível.
“É tão básico”, disse Blasco. “Ninguém pensaria que isso pudesse dar certo.”
O caso das maluquices de Calatrava não é único e não se explica por dinheiro ou outras razoes que não sejam ideológicas: o desejo de construir um mundo cabeça para abaixo que seja bem o contrário da ordem e da Civilização Cristã.
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