terça-feira, 6 de abril de 2021

Perdura o atrativo da Legião Estrangeira

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Há uma unidade de combate aureolada de prestígio e mistério malgrado suas singularidades: a Legião Estrangeira, que é da França, mas é integrada por não-franceses.

O jornal parisiense “Le Figaro” lhe dedicou mais uma reportagem consciente de que o público não se cansa de ouvir falar dela.

O jornal admira o ambiente em que se forma o legionário: um luxo modesto na limpeza de um mosteiro.

A Legião tem uma liturgia própria que não é o sacrifício do sacerdote no altar, mas do herói nos campos de combate mais extremos.

O antigo e natural mecanismo de hierarquização define quem manda e quem obedece, quem se distancia e quem assume a defesa.

A Legião Estrangeira tomou corpo nas lutas contra mouros na Argélia
A Legião Estrangeira tomou corpo nas lutas contra mouros na Argélia
A autoridade natural é o princípio que fundamenta a sublime desigualdade com base no valor manifestado.

No Saara ou na Amazônia essas unidades compostas de voluntários trazidos pelos quatro ventos.

Eles se organizam, constroem seus abrigos e suas jangadas, com tanta afinidade mútua que Andrei, com sotaque russo, diz que ali está sua “pátria interior”.

Na Legião ecoam ao vivo a lembrança das grandezas da França em todas as circunstancias desde as Cruzadas.

Cada um dos voluntários “sem nome” é como uma concha deixada pela maré na praia. Ali entra numa Legião embebida em lendas de glórias e de lutos, de vitórias e catástrofes, onde desconhecidos se tornaram alguém.

O legionário tem uma genealogia de antepassados e irmãos mortos e vivos povoando a pátria da façanha!

A Legião insulta a modernidade”, resume o tenente-coronel Montulo. Composta ao 90% de estrangeiros e comandada por franceses, a Legião faz homens lutar por uma nação que não é a sua.

Como os monges, velhos estudiosos que cultuam uma luz sobrenatural feita de fé, ciência e arte, o legionário cultua o exemplo dos heróis cujas figuras pairam nos céus intangíveis da França

Os clérigos salvaram os manuscritos gregos quando os bárbaros devastaram o Império, os legionários salvam a humanidade da aviltada modernidade sem cerimônia, parafrasea “Le Figaro” .

O paradoxo da Legião consiste em que estrangeiros salvam os ecos de uma velha ideia da França enquanto espera que os franceses saiam da dormência hodierna.

Os franceses não têm mais forças para reeditar a gesta de séculos idos, mas outros fazem isso por eles.

Na Legião zelam por um país que já não se ama porque envenenado pela “Liberté, Égalité e Fraternité”, mas admira o gênio de outros que a amam.


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