quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Ratos viciados em tirar selfies

Nossas selfies de roedores, nós mesmos, dizem autores
Nossas selfies de roedores, nós mesmos, dizem autores
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O fotógrafo profissional parisino Augustin Lignier ficou impressionado pela obsessão generalizada de tirar selfies.

Por qué tantos se sentem compelidos a tirar fotos de si próprios e compartilhá-las sem cessar com outros perfis que quiçá lhe consagrem apenas segundos antes de passar para a seguinte?

A matéria foi objeto de coruscante reportagem do “The New York Times”, reproduzida ou glosada por muitos outros médios.

Não é uma pergunta nova, mas o fotógrafo de Paris acabou chegando a uma sugestiva conclusão após fazer uma cabine fotográfica para experiências com ratos.

Ele se inspirou no famoso behaviorista B.F. Skinner, que criou uma câmara de teste para estudar o aprendizado dos ratos.

A caixa de Skinner, como ficou conhecida, distribuía rações de comida quando os ratos empurravam uma alavanca predeterminada.

Equipamento incluía uma câmera e uma tela em que os animais podiam ver a si mesmos
Equipamento incluía uma câmera e uma tela
em que os animais podiam ver a si mesmos
As experiências de Skinner se tornaram paradigmas experimentais aplicados inclusive ao estudo da psicologia humana!

Os cientistas descobriram que na busca de recompensas os ratos pressionavam a alavanca sem cessar.

O faziam repetidas vezes em troca de comida, drogas ou até mesmo de um leve choque elétrico diretamente no centro de prazer do cérebro.

Lignier construiu sua própria caixa de Skinner – uma torre alta e transparente com uma câmera acoplada – e soltou dentro dois ratos adquiridos numa loja.

Sempre que os ratos pressionavam certo botão na caixa, recebiam uma dose de açúcar e a câmera tirava uma foto deles.

As imagens resultantes eram imediatamente exibidas em uma tela, onde os ratos podiam vê-las.

Os roedores rapidamente se tornaram entusiastas do acionamento desse botão.

Nas fases seguintes os ratos eram fotografados toda vez que apertavam o botão, mas as guloseimas vinham aleatoriamente de forma planejada.

As recompensas intermitentes foram suficientemente poderosas para manter os animais grudados fazendo lembrar fãs dos videogames colados em computadores ou fliperamas à procura de ganhar algo.

Por fim, os ratos ignoravam o açúcar até quando ele chegava, dominados pelo impulso de continuar apertando o botão das selfies.

Para Lignier, o paralelismo é óbvio: “as empresas de mídia digital e social usam o mesmo conceito para manter a atenção do espectador pelo maior tempo possível”.

De fato, as redes sociais têm sido descritas como “uma caixa de Skinner para o ser humano moderno”, distribuindo recompensas periódicas e imprevisíveis – um like, um follow, um par romântico promissor – que deixa o usuário grudado em seu smartphone, ou qualquer tela digital, ou fliperama.

Os ratos não paravam de apertar o botão para tirar selfies
Os ratos não paravam de apertar o botão para tirar selfies
Em um estudo de 2014, cientistas concluíram que muitos voluntários humanos “preferiam dar choques elétricos em si mesmos em vez de ficarem sozinhos com seus pensamentos”.

Sintoma, aliás, eloquente do vazio de alma dos homens que esqueceram a Igreja e a Civilização Cristã.

Talvez prefiramos ficar apertando quaisquer alavancas que estejam à nossa frente – mesmo aquelas que possam nos fazer sentir mal – em vez de ficarmos sentados em contemplação silenciosa, comentou o “The New York Times”.

O jornal novaiorquino e numerosos outros médios, brasileiros inclusive, tecnológicos ou de novidades sociais, não conseguiram evitar a comparação com o hábito humano de ficar tirando selfies incansavelmente.

Até virar costume doentio que inclusive levou alguns a acidentes mortais.

Não faltaram comentaristas que acharam que a obsessão pelas selfies é a mesma dos roedores de Augustin Lignier.


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