O vazio de autoridade leva à depressão, o desespero e até o suicídio |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Lindsay, Lucas, Dinah, Thibaut são os nomes dos adolescentes mais jovens que se suicidaram após serem vítimas de assédio moral (bullying) na França, narrou reportagem de “Valeurs Actuelles”.
Marie-Estelle Dupont, autora do livro “Ser pais em tempos de crise”, (Guy Trédaniel Éditeur, 216 páginas, 19,90€) explica que o vício do assédio virou um fenômeno de sociedade e é sintoma de uma doença social.
A natureza humana não muda e a tendência a criar um bode expiatório sempre existiu.
Porém, o que agora espanta é a frequência, a precocidade e o nível de barbárie atingida sob o olhar impassível de adultos que omitem o dever que lhes cabe por sua posição de autoridade.
As instituições que tem responsabilidade sobre as crianças tampouco intervém.
Os adultos devem por limites e interdições às crianças para ajuda-las a se estruturar.
Recusar o exercício dessa autoridade equivale a entregar as crianças a uma falsa liberdade para a qual não estão preparadas, explica o psiquiatra infantil Philippe Jeammet.
Omitindo a missão sagrada de proteger ao infante, os adultos se tornam cúmplices da barbárie.
Abandonados pelos adultos, os filhos cessam de acreditar numa figura que deve ser seu protetor, seu auxilio, e são assaltados pelo pensamento de cessar de sofrer cometendo suicídio.
O assédio na escola não é mais do que um sintoma de uma constelação de péssimos sinais que refletem uma inversão dos valores: os adultos não pensam que eles estão obrigados a cuidar dos minores.
Na psiquiatria e sobre tudo na psiquiatria infantil se constata há vinte anos um continuado aumento da violência entre os mais jovens, decorrente de uma derrocada psíquica generalizada no homem contemporâneo.
A aceleração desta violência é o fruto da perda de valores espirituais iniciada em Maio de 1968.
O ser humano reduzido a contribuinte ou consumidor está perdendo a alma e se afasta do sagrado.
Família camponesa austríaca antiga e o fotógrafo. Num ambiente assim o suicídio das crinaças era inimaginável |
Como explicar a covardia daqueles que têm autoridade? Não haveria esse “fracasso” de pais, educadores e autoridades públicas se todos tivessem mantido o seu lugar.
O nível de barbárie que apareceu nas crianças é realmente surpreendente. Algumas parecem nunca ter sido humanizados, comportando-se como verdadeiros zumbis.
Com o celular, as crianças vítimas de bullying não têm mais descanso, a casa não tem mais paredes. Há uma abolição pelo mundo virtual da fronteira entre a realidade e a imaginação.
Brincar é essencial para aprender a diferença entre realidade e imaginação. Quanto menos tempo os pais dedicarem para brincar com os filhos, mais eles serão entregues a telas onde essa diferença é completamente abolida. Isto pode contribuir para descompensações psicóticas.
Se a diferença entre realidade e a imaginação é frágil numa criança, como podemos impor uma proibição? Enquanto isso, a diferença radical entre a vida e a morte está sendo abolida em videojogos e filmes stream, estimulada pelo anonimato das redes sociais.
A barbárie nas redes sociais, jogos ou cenas, esvazia o senso da existência, há uma dessacralização e uma desencarnação ligada ao puramente virtual.
Tudo então se torna possível. Assassinato e suicídio incluído.
Poucos dias depois de Lindsay ter sido levada ao suicídio por outros jovens, Henri, chamado de “herói mochileiro”, distinguiu-se pela coragem ao evitar uma verdadeira carnificina em Annecy.
Como ensinaremos essa coragem aos nossos filhos?
Quando a criança é olhada, amada, respeitada, valorizada e lhe dizemos a verdade e corrigimos suas más tendências, apesar dos constrangimentos, ela adquire referenciais internos estruturantes.
A dignidade do outro que transmitimos à criança é exatamente o oposto do cada um por si, inerente ao progressismo.
A melhor maneira é oferecer esperança à criança. E essa pede o sagrado. Se oferecermos aos nossos filhos uma ideologia mortalmente progressista, onde o homem com uma consciência diminuída, substitui Deus, então alimentamos a ilusão da onipotência.
Henri, o exemplo contrário, foi criado com a ideia de que havia algo maior do que ele, foi nutrido pela esperança da transcendência.
A sociedade que esta omissão pressagia dá as mais preocupantes sinais: aumento dos distúrbios psicológicos infantis, abandono dos estudos por não encontrarem um sentido para a vida.
Foi sendo criada uma fábrica de adultos deprimidos e/ou violentos, com grandes problemas de saúde mental, que será o principal tema de saúde pública amanhã, e tudo isso em nome da “liberdade”!
A tecnologia e o relativismo moral produz um exército de zumbis isolados atrás de uma tela, recebendo comida pelo delivery e conversando entre si por meio de avatares no metaverso.
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