terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Não exercer a autoridade é abandonar os filhos ao desespero

O vazio de autoridade leva à depressão, o desespero e até o suicídio
O vazio de autoridade leva à depressão, o desespero e até o suicídio
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Lindsay, Lucas, Dinah, Thibaut são os nomes dos adolescentes mais jovens que se suicidaram após serem vítimas de assédio moral (bullying) na França, narrou reportagem de “Valeurs Actuelles”.

Marie-Estelle Dupont, autora do livro “Ser pais em tempos de crise”, (Guy Trédaniel Éditeur, 216 páginas, 19,90€) explica que o vício do assédio virou um fenômeno de sociedade e é sintoma de uma doença social.

A natureza humana não muda e a tendência a criar um bode expiatório sempre existiu.

Porém, o que agora espanta é a frequência, a precocidade e o nível de barbárie atingida sob o olhar impassível de adultos que omitem o dever que lhes cabe por sua posição de autoridade.

As instituições que tem responsabilidade sobre as crianças tampouco intervém.

Os adultos devem por limites e interdições às crianças para ajuda-las a se estruturar.

Recusar o exercício dessa autoridade equivale a entregar as crianças a uma falsa liberdade para a qual não estão preparadas, explica o psiquiatra infantil Philippe Jeammet.

Omitindo a missão sagrada de proteger ao infante, os adultos se tornam cúmplices da barbárie.

Abandonados pelos adultos, os filhos cessam de acreditar numa figura que deve ser seu protetor, seu auxilio, e são assaltados pelo pensamento de cessar de sofrer cometendo suicídio.

O assédio na escola não é mais do que um sintoma de uma constelação de péssimos sinais que refletem uma inversão dos valores: os adultos não pensam que eles estão obrigados a cuidar dos minores.

Na psiquiatria e sobre tudo na psiquiatria infantil se constata há vinte anos um continuado aumento da violência entre os mais jovens, decorrente de uma derrocada psíquica generalizada no homem contemporâneo.

A aceleração desta violência é o fruto da perda de valores espirituais iniciada em Maio de 1968.

O ser humano reduzido a contribuinte ou consumidor está perdendo a alma e se afasta do sagrado.

Família camponesa austríaca antiga. Num ambiente assim o suicídio das crinaças era inimaginável
Família camponesa austríaca antiga e o fotógrafo.
Num ambiente assim o suicídio das crinaças era inimaginável
A curva da violência é uma tendência verificável até na linguagem. Se a criança ouve a autoridade usando o palavrão qual respeitabilidade vai ter? Ela adota o mesmo linguajar sujo e a violência que vai junto.

Como explicar a covardia daqueles que têm autoridade? Não haveria esse “fracasso” de pais, educadores e autoridades públicas se todos tivessem mantido o seu lugar.

O nível de barbárie que apareceu nas crianças é realmente surpreendente. Algumas parecem nunca ter sido humanizados, comportando-se como verdadeiros zumbis.

Com o celular, as crianças vítimas de bullying não têm mais descanso, a casa não tem mais paredes. Há uma abolição pelo mundo virtual da fronteira entre a realidade e a imaginação.

Brincar é essencial para aprender a diferença entre realidade e imaginação. Quanto menos tempo os pais dedicarem para brincar com os filhos, mais eles serão entregues a telas onde essa diferença é completamente abolida. Isto pode contribuir para descompensações psicóticas.

Se a diferença entre realidade e a imaginação é frágil numa criança, como podemos impor uma proibição? Enquanto isso, a diferença radical entre a vida e a morte está sendo abolida em videojogos e filmes stream, estimulada pelo anonimato das redes sociais.

A barbárie nas redes sociais, jogos ou cenas, esvazia o senso da existência, há uma dessacralização e uma desencarnação ligada ao puramente virtual.

Tudo então se torna possível. Assassinato e suicídio incluído.

Poucos dias depois de Lindsay ter sido levada ao suicídio por outros jovens, Henri, chamado de “herói mochileiro”, distinguiu-se pela coragem ao evitar uma verdadeira carnificina em Annecy.

Como ensinaremos essa coragem aos nossos filhos?

Quando a criança é olhada, amada, respeitada, valorizada e lhe dizemos a verdade e corrigimos suas más tendências, apesar dos constrangimentos, ela adquire referenciais internos estruturantes.

A dignidade do outro que transmitimos à criança é exatamente o oposto do cada um por si, inerente ao progressismo.

A melhor maneira é oferecer esperança à criança. E essa pede o sagrado. Se oferecermos aos nossos filhos uma ideologia mortalmente progressista, onde o homem com uma consciência diminuída, substitui Deus, então alimentamos a ilusão da onipotência.

Henri, o exemplo contrário, foi criado com a ideia de que havia algo maior do que ele, foi nutrido pela esperança da transcendência.

A sociedade que esta omissão pressagia dá as mais preocupantes sinais: aumento dos distúrbios psicológicos infantis, abandono dos estudos por não encontrarem um sentido para a vida.

Foi sendo criada uma fábrica de adultos deprimidos e/ou violentos, com grandes problemas de saúde mental, que será o principal tema de saúde pública amanhã, e tudo isso em nome da “liberdade”!

A tecnologia e o relativismo moral produz um exército de zumbis isolados atrás de uma tela, recebendo comida pelo delivery e conversando entre si por meio de avatares no metaverso.



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