quarta-feira, 17 de março de 2021

Festa de São José, rei a três títulos sublimes,
Padroeiro da Igreja

São José, escola de Cuzco, século XVIII, Denver Art Museum.
São José, escola de Cuzco, século XVIII, Denver Art Museum.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







São José era, ao mesmo tempo, trabalhador manual, carpinteiro e como tal pertencente à camada mais modesta da sociedade.

Mas de outro lado, ele era descendente do rei Davi, e de toda uma linhagem de reis de Israel.

A Casa de Davi decaiu e, com o tempo, perdeu o trono, afastou-se do poder. Sua família continuou a morar em Israel, em Judá, mas cada vez menos influente, menos poderosa e menos rica.

Quando afinal nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo a Casa de Davi estava no auge de sua decadência.

Então, São José Operário pode ser e deve ser cultuado enquanto operário.

Mas pode e deve também ser cultuado enquanto príncipe da Casa de Davi.



O papa Leão XIII, que foi um dos Pontífices que mais inculcaram a devoção a São José, disse taxativamente que não só São José deve se cultuado também como modelo do príncipe, mas devia também ser o modelo, o ânimo, o estímulo de todos aqueles que pertencessem a grandes linhagens decadentes.

Na reviravolta das coisas de hoje, um diretor de sindicato é, o mais das vezes, mais poderoso do que um duque.

Mas no século da Civilização Cristã o nobre fazia parte da categoria dos poderosos.

A causa da nobreza de São José foi porque ele descendeu de três espécies de varões diferentes, dignos a três títulos diferentes: o corpo, o espírito e as coisas celestes.

São José era nobre segundo o corpo porque era descendente de rei.

São José Esposo, imagem de marfim na igreja de Santo Agostinho, Manila
São José Esposo, imagem de marfim
na igreja de Santo Agostinho, Manila
Ele era nobre segundo o espírito porque era descendente de sacerdotes. Sabemos que os sacerdotes da Antiga Lei podiam casar.

E era nobre segundo as coisas sobrenaturais, porque era descendente de profeta. Ora, o profeta prediz o futuro e predizer o futuro é uma coisa celeste.

De maneira que descender de reis, profetas e sacerdotes essa é a mais alta nobreza que uma pessoa possa ter.

É mais alto do que descender só de reis, é mais alto do que descender só de sacerdotes, é mais alto do que descender só de profetas.

O rei é o Chefe de Estado. O Estado cuida, entre os homens, daquilo que diz respeito ao corpo.

O sacerdote faz para a alma o que o Estado faz para o corpo. Ele cuida das coisas da alma, do espírito.

O profeta é o representante de Deus, o porta-voz da palavra de Deus.

Então, São José tinha as três causas mais altas de nobreza, representativa dos três aspectos da vida do homem: o aspecto material, o aspecto espiritual e a representação de Deus.

Nossa Senhora é Rainha do céu e da Terra não por uma imagem, mas Ela é a efetiva e autêntica Rainha do Céu e da Terra.

Ora, aquele que se casa com a Rainha de todo o universo é nobre evidentemente.

Mas São José não foi apenas o Esposo de Nossa Senhora; ele foi o pai do Menino Jesus.

Ora, ser o pai do Filho de Deus é a mais alta honra a que um homem possa chegar, depois da honra de ser a Mãe do Filho de Deus, que é, evidentemente, uma honra maior.

Quer dizer, ele não só foi nobre porque se casou com Nossa Senhora, mas porque Nosso Senhor o investiu na mais alta função de governo que possa haver na terra abaixo de Nossa Senhora.

Ser o pai do Menino Jesus, governar o Menino Jesus e governar Nossa Senhora é mais do que governar todos os reis e impérios do mundo!

São José, dito El Parlero, narrava a Santa Teresa as faltas das freiras. De tanto falar falar ficou milagrosamente com a boca aberta, Mosteiro da Encarnacão, Ávila
São José, El Parlero, narrava a Santa Teresa as faltas das freiras.
De tanto falar falar ficou milagrosamente com a boca aberta,
Mosteiro da Encarnacão, Ávila
Ora, isso não lhe veio só do casamento, Deus o escolheu para isso. Compreendemos então a nobreza excelsa que lhe vinha disso.

Não era adequado que o Filho de Deus convivesse com um homem que não tivesse, ao mesmo tempo, as duas nobrezas: a da alma e a do sangue. E esse homem foi São José.

Deus de fato ama eminentemente a humildade. Mas a humildade não é só a virtude dos plebeus; é também a virtude dos nobres, porque é a virtude dos grandes e também dos pequenos.

O que é a humildade? A humildade é a verdade. É humilde aquele homem que olha para si, reconhece a verdade a respeito de si mesmo, se contenta com o que é, não quer ser mais nem menos do que é, porque Deus Nosso Senhor o colocou na posição que ele tem. Isso é ser humilde.

E por isso, uma pessoa pode ser muito humilde, embora sendo muito grande.

Se a grandeza fosse incompatível com a humildade, colocando Nossa Senhora em tal grandeza Deus teria impedido Nossa Senhora de ser humilde.

Ora, Ela foi humilde até o fim da vida, sendo a maior das meras criaturas. Logo, entre a grandeza e a humildade não há incompatibilidade.

Tanto é verdade que a grandeza e a humildade não se excluem, que em Nosso Senhor tiveram uma aliança admirável.

Ninguém na vida foi mais humilde do que Nosso Senhor Jesus Cristo, mas ninguém teve grandeza maior do que a dEle.

Qual foi um lance da vida de São José em que ele levou a lógica até o heroísmo?

Foi o episódio muito conhecido, quando ele viu que Nossa Senhora tinha concebido um filho do qual ele não era pai.

Ele foi colocado diante de uma situação absurda, pois Nossa Senhora era evidentemente santa. Disso ele não podia duvidar, porque a santidade dEla reluzia de todos os modos possíveis.

Em vez de denunciá-La como ordenava a Lei hebraica, ele pensou na única saída lógica:

“Quem está de mais nesta casa não é essa Mãe, que aqui é a dona e rainha; nem o filho que Ela concebeu. Alguém está de mais, e esse alguém sou eu. Vou abandonar a casa e sumir. Não compreendo tal mistério, mas contra ele não me levantarei. Passarei meus dias longe, venerando o mistério que não entendi”.

E resolveu, quando fosse meia-noite, abandonar a casa, fugir, deixando Nossa Senhora com o fruto de suas entranhas.

Considerem a calma de São José que só os homens lógicos a têm. Ele tinha que abandonar o maior tesouro da Terra, que era Nossa Senhora. E isso representava um sofrimento imenso, inimaginável.

O Evangelho narra que ele estava dormindo, quando apareceu o anjo em sonho e lhe deu a explicação.

Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber em tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é (obra) do Espírito Santo.

Dará à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1, 20-21).

O anjo apareceu-lhe e explicou a situação. Ele continuou o sono. Amanheceu e a vida prosseguiu normalmente.

Suma normalidade, suma coerência, suma lógica!


(Excertos de comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, palestra de 19 de março de 1976, sem revisão do autor)


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