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Nossas selfies de roedores, nós mesmos, dizem autores |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O fotógrafo profissional parisino Augustin Lignier ficou impressionado pela obsessão generalizada de tirar selfies.
Por qué tantos se sentem compelidos a tirar fotos de si próprios e compartilhá-las sem cessar com outros perfis que quiçá lhe consagrem apenas segundos antes de passar para a seguinte?
A matéria foi objeto de coruscante reportagem do “The New York Times”, reproduzida ou glosada por muitos outros médios.
Não é uma pergunta nova, mas o fotógrafo de Paris acabou chegando a uma sugestiva conclusão após fazer uma cabine fotográfica para experiências com ratos.
Ele se inspirou no famoso behaviorista B.F. Skinner, que criou uma câmara de teste para estudar o aprendizado dos ratos.
A caixa de Skinner, como ficou conhecida, distribuía rações de comida quando os ratos empurravam uma alavanca predeterminada.
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Equipamento incluía uma câmera e uma tela em que os animais podiam ver a si mesmos |
Os cientistas descobriram que na busca de recompensas os ratos pressionavam a alavanca sem cessar.
O faziam repetidas vezes em troca de comida, drogas ou até mesmo de um leve choque elétrico diretamente no centro de prazer do cérebro.
Lignier construiu sua própria caixa de Skinner – uma torre alta e transparente com uma câmera acoplada – e soltou dentro dois ratos adquiridos numa loja.
Sempre que os ratos pressionavam certo botão na caixa, recebiam uma dose de açúcar e a câmera tirava uma foto deles.
As imagens resultantes eram imediatamente exibidas em uma tela, onde os ratos podiam vê-las.
Os roedores rapidamente se tornaram entusiastas do acionamento desse botão.
Nas fases seguintes os ratos eram fotografados toda vez que apertavam o botão, mas as guloseimas vinham aleatoriamente de forma planejada.
As recompensas intermitentes foram suficientemente poderosas para manter os animais grudados fazendo lembrar fãs dos videogames colados em computadores ou fliperamas à procura de ganhar algo.
Por fim, os ratos ignoravam o açúcar até quando ele chegava, dominados pelo impulso de continuar apertando o botão das selfies.
Para Lignier, o paralelismo é óbvio: “as empresas de mídia digital e social usam o mesmo conceito para manter a atenção do espectador pelo maior tempo possível”.
De fato, as redes sociais têm sido descritas como “uma caixa de Skinner para o ser humano moderno”, distribuindo recompensas periódicas e imprevisíveis – um like, um follow, um par romântico promissor – que deixa o usuário grudado em seu smartphone, ou qualquer tela digital, ou fliperama.
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Os ratos não paravam de apertar o botão para tirar selfies |
Sintoma, aliás, eloquente do vazio de alma dos homens que esqueceram a Igreja e a Civilização Cristã.
Talvez prefiramos ficar apertando quaisquer alavancas que estejam à nossa frente – mesmo aquelas que possam nos fazer sentir mal – em vez de ficarmos sentados em contemplação silenciosa, comentou o “The New York Times”.
O jornal novaiorquino e numerosos outros médios, brasileiros inclusive, tecnológicos ou de novidades sociais, não conseguiram evitar a comparação com o hábito humano de ficar tirando selfies incansavelmente.
Até virar costume doentio que inclusive levou alguns a acidentes mortais.
Não faltaram comentaristas que acharam que a obsessão pelas selfies é a mesma dos roedores de Augustin Lignier.