Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O número das freiras católicas na Itália está diminuindo tão rapidamente, que por volta de 2050 talvez não fique nenhuma, registrou reportagem do site Narratively.
O site foi entrevistar freiras idosas internadas num antigo convento de clausura em virtude de sua avançada idade. Essas religiosas se perguntam com angústia quem virá dar continuidade à sua missão inconclusa.
O site menciona soror Zenaide celebrando seu 101º aniversário num dia de inverno e cantando “a dor de milhares de ilusões”.
Quase não há mais noviças jovens no convento de Santa Ana, em Turim. As que chegaram mais recentemente vieram da Índia como enfermeiras das idosas. É o caso da irmã Evangelina, originária de Kerala.
Todos os anos a agência FIDES (da Congregação para a Evangelização dos Povos) fornece um censo das religiosas de todo o mundo.
Segundo ele, havia em 1997 cerca de 400.000 religiosas na Europa. Em 2015 elas eram menos de 300.000. A estatística constata uma perda anual de aproximadamente 8.000 religiosas. Os dados dos Estados Unidos e da Austrália apontam uma decadência análoga.
Na Ásia e na África os números estão distorcidos pela quantidade de moças que entram em conventos só para conseguir completar os estudos.
Mas ser uma religiosa é uma vocação divina. Soror Gesualda, 95, lembra as dificuldades que enfrentou para entrar na vida religiosa e a tenacidade com que agiu face à oposição de seu pai.
A irmã Clotilde, 92, acredita que a diminuição das vocações é também punição pelos “milhões de abortos que acontecem no mundo”.
A lamentável crise das vocações religiosas não atinge só a Itália.
Em dezembro de 2015, o Global Sisters Report constatou que restam menos de 50.000 religiosas nos EUA — mesmo número de um século atrás — e que só 9% delas têm menos de 60 anos.
Em São Paulo, o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, explicou que a Igreja Católica perde anualmente cerca de dois mil religiosos e religiosas (O Estado de S. Paulo, 20.08.15).
A crise da Fé produziu outros dolorosos efeitos negativos revelados em 2015. Na Alemanha, segundo o episcopado, 218.000 fiéis abandonaram a Igreja em 2014, 39.000 a mais que em 2013, quando 179.000 deixaram de pagar o imposto dos fiéis (La Croix, 21.07.15).
Em setembro de 2015, a Arquidiocese de Nova York fechou quase 40 paróquias, por falta de sacerdotes e de recursos econômicos (Folha de S. Paulo, 05.08.15).
O bispo de Besançon, França, permitiu que se realizasse uma exibição equestre em sua catedral.
Cerca de 20 igrejas são fechadas anualmente na Inglaterra. A Alemanha fechou 515 numa década e dois terços das 1.600 igrejas católicas da Holanda serão desativadas proximamente (Infocatólica, 06.01.15).
Nos últimos anos, centenas de igrejas católicas na Europa foram postas à venda e algumas já são hotéis, residências, museus, lojas, oficinas, supermercados, floriculturas, e até um bar estilo Frankenstein em Edimburgo, Escócia.
Igreja transformada em hotel em Malines, Bélgica. |
O resultado está aí.
Porém, a Igreja Católica é imortal. A reportagem não menciona, mas é fato largamente constatado que os conventos e seminários que retornam à disciplina e às práticas da Igreja de sempre, estão enchendo invariavelmente.
Quando o espectro da Igreja Nova se dispersar no nada de onde parece ter saído, a Igreja ressurgirá com um renovado rosto ainda mais esplendoroso que nos séculos de sua maior glória.
Uma vez eu comentava com um rapaz sobre a idade avançada da maioria dos religiosos e ele me respondeu da seguinte maneira: são os idosos mesmo que sustentam a Igreja. Fiquei tão desconcertado por essa resposta que mal consegui continuar o assunto, não por a resposta dele ter sido verdadeira, mas por esse rapaz não ter entendido algo tão elementar: se não há jovens para continuar a missão dos idosos em uma determinada congregação ou Ordem, então ela acabará. Fiquei impressionado com a obtusidade daquele rapaz. Acho que ele se sentiu ofendido com o meu comentário porque a mãe dele é uma pessoa de idade. Exemplos pessoais à parte, é, de fato, de se lamentar e de se preocupar, que as Ordens religiosas estejam definhando e acabando por falta de vocações jovens. Só um novo pentecostes para mudar as coisas na Igreja, porque, pelas própria forças a juventude atual não tem capacidade de abraçar a vida religiosa, tamanha é a atração que o mundo e a carne exercem sobre eles, isto é, os jovens.
ResponderExcluirSerá o inicio da Grande Apostasia,prevista em La Salette???
ResponderExcluirO que você quer dizer com "a Grande Apostasia, prevista em La Salette"? A mensagem de La Salette fala de várias coisas. Muitas delas já aconteceram. Muitas outras ainda não. Parte da mensagem que já se realizou (e ainda está se realizando) é a que se refere a decadência do clero e dos religiosos. Veja: "No ano de 1864, Lúcifer e um grande número de demônios serão soltos do inferno. Eles abolirão a fé pouco a pouco, até nas pessoas consagradas a Deus. Eles as cegarão de tal maneira que, salvo uma graça particular, adquirião o espírito desses maus anjos. Várias casas religiosos perderão inteiramente a fé e perderão muitas almas."
ExcluirA tendência é piorar. Creio que a Igreja terá que passar por isso para voltar a ser o que era, serão os seus dias no deserto, e assim ressurgirá das cinzas mais forte e mais valorizada pq as pessoas só sabem o que é bom quando perdem.
ResponderExcluirPor falar em vida religiosa, parece que o Ano da Vida Consagrada não teve muitos resultados. Ao meu ver, o Ano da Vida Consagrada foi uma tentativa do Papa Francisco de chamar a atenção e os esforços da Igreja para solucionar a crise vocacional religiosa, mas essa crise é uma crise extremamente difícil de ser resolvida, pois se identifica com a profunda crise de fé por que passa a humanidade, mergulhada no materialismo, no hedonismo e na indiferença pelo próximo. Com as próprias forças o homem é incapaz de dar uma resposta à altura de Deus. Só um novo Pentecostes para renovar a humanidade decaída dos tempos atuais.
ResponderExcluirA crise de fé na Europa e nos Estados Unidos é por culpa da maioria dos bispos e cardeais que se fecham a uma tradição caduca e de ritos externos que não toca os corações. As pessoas buscam uma experiência com o divino e que transformam a suas vidas. Manter e transmitir a experiência dos apóstolos com Jesus não é ficar presos a um ritualismo. Em algumas comunidades funciona mas não em todas.
ResponderExcluirPadre, veja essa reportagem! Ela, de certa forma, delineia o perfil dos potenciais vocacionados da Igreja num futuro próximo:
Excluirhttp://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/534252-jovens-catolicos-o-fervor-com-o-terco-e-a-biblia-no-brasil-e-a-concordancia-com-a-doutrina-moral-da-igreja-nos-eua-entrevista-especial-com-silvia-fernandes-
A falta de vocações nos EUA não tem a ver com questões litúrgicas, mas com questões ideológicas, que poderíamos resumir no modernismo e no que hoje se chama de ideologia de gênero. Há alguns anos atrás o Olavo de Carvalho comentou sobre o assunto em um artigo intitulado "Ainda a traição dos clérigos" (29-04-2002):
Excluir"Mas, poucas semanas após a publicação de meu artigo “A traição dos clérigos”, descobri que aquilo que ali eu me esforçava para discernir obscuramente entre indícios nebulosos já estava revelado e provado com abundância de detalhes. Num livro recém-publicado, Goodbye! Good Men: how Catolic Seminaries Turned away Two Generations of Vocations from the Prieshood, o reporter Americano Michael S. Rose mostra que pelo menos desde 1970 vários movimentos esquerdistas e gays dos Estados Unidos têm colocado gente sua nos departamentos de psicologia dos seminários, no intuito de perverter os critérios seletivos para a ordenação sacerdotal, bloqueando a entrada de postulantes vocacionalmente dotados e forçando o ingresso maciço de homossexuais no clero. Ao fim de três décadas de obstinado plantio de escândalos, os frutos estão maduros para ser exibidos na mídia, expondo a Igreja ao escárnio dos falsos moralistas que lucram com isso."
Prezado Luís, eu vi nas redes sociais um dossier em francês sobre o Ano da Vida Consagrada. O material contem informações interessantes, mas o meu françês não é muito bom. Se possível, o senhor poderia comentar alguma coisa sobre o mesmo? Os links são
Excluirhttp://www.jeunes-vocations.catholique.fr/ressources/dossiers/dossier-2015-annee-de-la-vie-consacree.html
http://www.jeunes-vocations.catholique.fr/download/6-213937-0/dossier-de-presse-de-cloture-pour-l-annee-de-la-vie-consacree.pdf