O Ministério Público Federal – MPF de Belo Horizonte ajuizou pedindo a retirada de circulação do dicionário Houaiss porque conteria “expressões pejorativas e preconceituosas” contra os ciganos.
De fato, entre as múltiplas definições para a palavra, constam “aquele que trapaceia, velhaco, burlador” e “agiota, sovina”. O Houaiss marca esses usos como pejorativos.
A “Folha de S.Paulo” (02/03/2012) comenta que, nessa lógica, o MPF deveria também mandar recolher todos os dicionários que trazem, por exemplo, o termo “beócio” do qual o Aurélio registra o uso: “curto de inteligência; ignorante, boçal”. A palavra vem do fato dos atenienses acharem que os habitantes da Beócia eram camponeses ignaros.
O jornal cita também “capadócio” (natural da Capadócia, mas também ignorante, trapaceiro, canalha), “filisteu” (antigo habitante da Palestina e pessoa inculta, vulgar), “vândalo” (membro de uma tribo germânica e destruidor), além de “lapônio”, “ladino”, “safardana”, “maltês”. Também carregam alguma dose de intolerância termos como “judiar” (agir como judeu e maltratar), “cretino” (quem padece de hipotireoidismo), “escravo” (que vem de eslavo).
Não cabe ao lexicógrafo dar lições de moral ou depurar o idioma das injustiças sociais que carrega, mas tão somente registrar as acepções presentes e passadas dos vocábulos. Se não, a obra torna-se inútil, constata a “Folha”.
De fato, o País cairia numa situação tragi-comica, para dizer só isso, como a descrita em “1984” em que os agentes da “Polícia do Pensamento” corrigiam todos os dias os impressos do passado para re-escrever a História numa “novilingua” imposta pela mais radical das ditaduras.
Estariamos na antessala da pior ditadura do pensamento imaginada pelo novelista anarquista George Orwell?